Hormonas são perigosas?
Há 7 anos que trabalho em modulação hormonal. O motivo mais frequente da consulta para a mulher é a perimenopausa/menopausa.
É um período em que a mulher se debate com imensos problemas, a nível físico e sobretudo emocional.
Nesta altura sentimos o nosso corpo mudar, a energia a diminuir, as rugas a aparecerem, a flacidez a instalar-se, os problemas sexuais a aparecerem. Tudo nos parece um problema! Já não conseguimos fazer as “10 coisas ao mesmo tempo” que fazíamos há tempos, o nosso raciocínio parece que ficou mais lento, a falta de memória começa a tornar-se evidente, a falta de concentração, sensação de cabeça vazia e perdida atormentam-nos. Estarei a ficar com Alzheimer?! (Há menos 40% de Doença de Alzheimer nas mulheres que fizeram terapêutica de compensação hormonal (TCH), comparativamente às que não fizeram)
Muitas mulheres aceitam todo este quadro com resignação, dada a falta de informação, relativamente às possibilidades de tratamento que têm.
Afinal envelhecer é natural e este quadro faz parte do nosso envelhecimento natural.
Mas grande parte, por má e negativa informação, quer de utente, quer de médico, não é convenientemente tratada.
Muitas destas mulheres, recorrem ao médico que classicamente as trata dos diversos problemas pontualmente: “remédio” para dor de cabeça, insónia, dores musculares, hipertensão arterial, colesterol elevado, etc, etc, quando tudo isto era prevenido e resolvido com a regulação hormonal, que é de facto o que estas mulheres precisam para terem mais saúde e qualidade de vida.
Ouviram falar de hormonas, mas…hormonas não é perigoso? (Colegas perguntam-me o mesmo) Sempre ouvimos dizer que sim!
“Hormonas faz cancro” é um mito que há que desfazer! Urge desfazer para que a qualidade de vida e saúde da mulher sejam melhoradas!
Os avanços a nível da ciência e da medicina estão na eminência de descobertas que aumentarão a nossa longevidade média actual de 84 anos para mais de 100 anos! Só temos de estar vivos e de boa qualidade de vida nos próximos 10 anos para que possamos eventualmente usufruir de todas estas descobertas que estão a surgir a cada dia!
Cancro está indiscutivelmente relacionado com o stress! E estarmos equilibradas hormonalmente, é o melhor anti-stress que podemos ter! E o mais saudável e capaz de nos manter felizes!
Estudos entre gémeos homozigóticos revelam que mesmo nos tumores geneticamente determinados, a expressão do tumor pode estar desfasada de anos, pelo que o ambiente é importante e podemos de certa forma controlar o aparecimento da doença tumoral em alguns casos.
Este artigo pretende (mais uma vez) esclarecer um pouco o “perigo” das hormonas.
As hormonas existem no nosso corpo porque são fundamentais ao bom funcionamento de todos os nossos sistemas! Por isso estão lá! Não “para enfeitar” como todos podemos compreender. Elas participam em processos químicos do nosso corpo, que deixarão de ser corretamente efectuados na sua ausência.
Com a idade o nosso nível hormonal vai diminuindo. O nosso corpo está maravilhosamente bem construído e durante um período de tempo vai “autocompensando” esta perda. Trabalha em “exaustão”, “atabalhoadamente”, começa a “enquistar” (aparecem os frequentes nódulos e quistos na tiróide, mamas, útero, etc).
Nesta altura o nosso colesterol total começa a subir, numa tentativa de fornecer mais “matéria prima” para a síntese das hormonas “esteroides” ( estradiol, progesterona, testosterona, aldosterona, cortisol, “vitamina” D …). E se não pensarmos neste mecanismo e sinal que nos dá o colesterol elevado com a idade a avançar podemos erradamente tentar “baixá-lo”, muitas vezes com medicação que tem múltiplos efeitos secundários e acessórios como impotência, cataratas, depressão, dores musculares, etc, etc.
Colesterol a elevar-se com a idade é pensar logo em hormonas a baixar! É um sinal a que temos de estar alertas e tratar o que é a raiz do problema não a consequência!
E sim! As mulheres morrem seis vezes mais de risco cardiovascular do que de cancro da mama, que parece que é o único receio que têm!
Isto para dar um simples e frequente exemplo, pois muitos outros são comuns.
Este “medo” das hormonas é sobretudo relativo às hormonas sexuais femininas. Muitos utentes e médicos têm receio de utilizar hormonas por falta de informação. Tratam-se outras deficiências hormonais como diabetes, mas a deficiência das hormonas sexuais não, por desconhecimento apenas. E “quem não sabe é como quem não vê” já diz o ditado. E quando o utente nos vem questionar sobre o fazer ou não a TCH, se metemos o cancro ao barulho, nada feito! Pois cancro é a última coisa que queremos obviamente!
Este medo vem desde o estudo WHI (Womens Health Iniciative) que estava previsto ser de 8,5 anos, e foi interrompido em 2002, 3,5 anos antes pelo aparecimento de maior risco cardiovascular e de cancro da mama.
Este estudo incidiu sobre 161.809 mulheres americanas entre os 50-79 anos de idade, idade média de 64 anos, maioria na menopausa há mais de 10 anos. Muitas há 20 anos!!!! Pretendia definir estratégia para diminuição do risco de doença cardiovascular, fracturas na mulher pós-menopausica, tumores da mama e recto.
16.608 mulheres foram seguidas no grupo da TCH todas elas com útero.
A este grupo foi efectuada a terapêutica mais comum à época nos EUA: os estrogénios equinos conjugados, hormona natural de égua, hormona não bioidentica (HNBI) e acetato de medroxiprogesterona, outra HNBI. (Só para recordar, hormona bioidentica é estruturalmente igual às nossas e a não bioidentica não, o que acarreta mais problemas naturalmente, pois os receptores onde actuam não estão adaptados a estas hormonas.)
De facto o risco de cancro da mama aumentou em cerca de 28%. Em número absoluto foram mais 8 casos por cada 10.000 utentes /ano. A maioria dos trabalhos posteriores indica um aumento do risco semelhante, entre 10 a 24% com a utilização de HNBI.
O WHI revelou que havia um risco aumentado de cancro de mama (CM) nas mulheres que efectuaram progestina apenas, sem estrogénio. E sobretudo revelou um aumento de risco de doença coronária (DC), enfarte do miocárdio (EAM) e tromboembolismo pulmonar (EP) embora só o cancro tenha ficado nas nossas cabeças. Revelou também que a utilização desta TCH diminui o risco de factura da anca (FA) e tumores colorectais (TCR). Em número absoluto por cada 10.000 utentes do estudo e por cada ano do estudo mais 7 DC, 8 EAM, 8 TP, 8 CM, -6 TCR e -5 FA.
Depois da publicação dos resultados do WHI em 2003, a TCH diminuiu em cerca de 70% nos cinco anos seguintes, em países como a Noruega e Suécia, embora a incidência do cancro da mama se tenha mantido. Em 2008 praticamente não se efectuava TCH nestes países e a taxa de cancro da mama começou a elevar-se de novo.
Mas o público desconhece a outra faceta que foi de que as mulheres que usaram apenas os estrogénios apresentaram um risco diminuído de 23% relativamente ao cancro da mama! Mesmo sendo estrogénio não bioidentico!
O que o WHI nos ensinou, ou devia ter ensinado, mas não ficou nada retido excepto o “cancro” que aumentou, foi que o risco cardiovascular aumentou MUITO, pelo que iniciar a terapêutica tardiamente não é o mais conveniente.
O nosso corpo é bioquímica e a metabolização dos estrogénios varia de mulher para mulher com a alimentação, exercício físico, suplementação alimentar, suplementação hormonal e hábitos de vida, exactamente os cinco pilares da medicina anti-envelhecimento. Os estrogénios orais por exemplo provocam a libertação no fígado de uma metaloproteinase que pode levar à libertação de placas ateromatosas se estas existirem. Por isso não devemos dar estradiol (nem bioidentico!) oral às mulheres!
Também o café, tabaco e o álcool favorecem a metabolização do estradiol em 16 OH-estrona, um estrogénio “mau”, ao contrário de uma correta alimentação, e hábitos de vida saudáveis que favorecem a metabolização do estradiol em 2-OH-estrona, um estrogénio “bom”, digamos assim.
E de facto HNBI não têm a haver com HBI (Hormonas Bioidênticas). E há outros factos que devemos ter em consideração e em consciência no momento de decidir se vamos ou não efetuar hormonas pois serão elas de facto perigosas?
Há imensos trabalhos publicados em revistas de renome que não encontram qualquer aumento do riscode cancro da mama com a utilização de TCH, mesmo com a utilização de HNBI. Há uma revisão efectuada por um médico, Trudy Brush que compilou 50 trabalhos realizados em 25 anos, onde não se verificou qualquer aumento no risco. Esta compilação foi efectuada só com trabalhos publicados em revistas de renome por um epidemiologista reconhecido na altura e trabalhos que acompanharam as mulheres 17-25 anos. Em muitos deles verificou-se um aumento nas mulheres que efectuaram placebo em vez de hormonas, o que indica um factor protector das hormonas!
Entre 2002 e 2012 morreram nos EUA pelo menos entre cerca de 20.000-90.000 mulheres pós-menopausicas prematuramente devido a não efectuarem compensação hormonal! A utilização precoce de estrogénios bioidênticos na mulher pós menopausica está associada a uma significativa redução de todas as causas de risco de mortalidade! E é pouco utilizada ainda!
Multiplos estudos indicam um factor protector nas mulheres pós cancro de mama, que ficam grávidas posteriormente com menor recorrência e metástases (cerca de 50% menos) relativamente às que não ficaram grávidas. Recordo que na gravidez somos “inundadas em estrogénios”! E são múltiplos os estudos neste sentido!
O risco de cancro da mama decresce cerca de 7% com cada gravidez! Este estudo foi efetuado na Noruega com cerca de 63.000 mulheres onde se observou uma relação inversa entre o número de gravidezes e o risco de cancro da mama.
Mulheres que nunca ficaram grávidas têm um risco maior de cancro da mama.
Outros dados a ter em conta:
Os estrogénios aumentam a apoptose (mecanismo que destrói as células tumorais)
O estradiol reduz as NFKbeta, IL6 e IL11
Os estrogénios aumentam a actividade do Nrf2 através da activação da via do PI3K nas MCF-7 celulas tumorais.
Os tumores da mama que expressam receptores para estrogénios são menos agressivos e com melhor prognóstico
As mulheres com cancro da mama e com níveis mais elevados de estradiol têm tumores menos “agressivos”.
Na menopausa quando os níveis de estradiol são mais baixos, aumentam os tumores E+
Os níveis de estriol e estrona não têm qualquer relação com o aumento do risco de cancro da mama
O risco de cancro da mama é maior nas mulheres que não efetuam terapêutica com estrogénios
Estudos animais indicam que:
Nos ratos (mamas idênticas aos humanos) a utilização de hormonas bioidenticas reduz a formação e progressão dos tumores mamários!
Nos ratos estrogénios e progesterona em altas doses na puberdade protegem do aparecimento de tumores mamários em 60% e eliminam HER-2/neu
Os animais suplementados com estradiol reduzem muito o tamanho dos tumores
Os estrogénios nos ratos também diminui muito expressão de mediadores pro-inflamatorios como Cox-2, TNFalfa, IL1beta e aromatase.
E para terminar há inúmeras situações a que diariamente estamos sujeitas, que aumentam em muito o nosso risco de cancro da mama, e a que não damos importância por falta de informação:
Os tumores da mama são de um modo geral mais agressivos em mulheres que dormem poucas horas por dia.
As insónias aumentam de um modo geral o nosso risco de mortalidade, havendo cerca de 40% de risco acrescido de mortalidade nas mulheres que dormem menos de 5 horas por dia
Existe também um risco de 3 vezes mais mortalidade e cancro nas mulheres que tomam hipnóticos para dormir! Mesmo que esporadicamente! O cancro da mama apresenta um risco aumentado de 35% nestas mulheres comparativamente às que não tomam comprimidos para dormir!
Depressão, stress e ansiedade aumentam o risco e a recorrência dos tumores da mama! (Os estrogénios funcionam como inibidores da monoaminooxidase (MAO), melhoram a produção da serotonina e da norepinefrina! Mulheres que não respondem aos inibidores selectivos da recaptação da serotonina (SSRI) para o tratamento da depressão melhoram o humor após administração de estrogénios por exemplo).
A utilização de SSRI aumenta o risco de cancro da mama (paroxetina).
Doentes com cancro da mama a fazer anti-estrogénico (tamoxifeno por exemplo) a quem foi dada a paroxetina aumentaram o seu risco de mortalidade imenso, de 91%! Este estudo foi efectuado em Inglaterra em 2010!
Os SSRI aumentam o risco de mortalidade nas mulheres pós menopausicas em cerca de 30% e 45% delas apresenta doença cardiovascular súbita, na maioria acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos ou paragens súbitas!
E seguem algumas situações em que foram efectuados estudos que indicam o aumentam o risco de cancro da mama qualquer delas muito mais do que a utilização de hormonas, quer HBI ou HNBI que como vimos tinham um risco aumentado, segundo os estudos de 0-24%:
Carne vermelha mais do que 1,5 “porção” ao dia aumenta o risco em cerca de 97%.
Consumo exagerado de “gordura má” (ómega 6) aumenta o risco em 100%!
Dietas ocidentalizadas, ricas em massas e hidratos de carbono de rápida absorção apresentam risco de mais de 46% chegando em alguns estudos a riscos superiores a 75% nas mulheres jovens.
A utilização de uma dieta tipo mediterrânico reduz o risco de desenvolver cancro da mama em cerca de 44%.
Os intolerantes à lactose e que consomem pouco leite têm menos incidência de tumores da mama, menos 21%
Mais fibra, menos tumores, mais açucar mais tumores
Comer sobremesa (doce) todos os dia, mais risco de cancro da mama de cerca de 55%
Medicação como antibióticos 50-100 dias, risco de 53%. De 500-1000 dias risco de 114%.
A digoxina também produz efeitos potenciadores durante a sua utilização.
A utilização de bloqueadores dos canais de cálcio para controlar a hipertensão arterial também parece favorecer o aumento do cancro da mama assim como os inibidores dos enzimas de conversão da angiotensina.
As estatinas nas mulheres obesas também apresentam uma maior incidência de tumores PR –.
Mulheres mais novas que utilizam drogas anti hipertensoras têm risco maior de carcinomas invasivos.
Tomar pílula antes dos 20 anos, risco de mais 21%. Tomar pílulas por mais de 10 anos, risco aumentado de 13%
Aumento de mais de 10 kg de peso após a menopausa aumenta o risco em cerca de 18%
Fumadoras apresentam um risco de mais 30% relativamente às não fumadoras
O uso de soutien também tem estudos efectuados, e pensa-se que o risco é de cerca de 75% superior nas que utilizam o soutien 24 horas por dia! Não dormir com soutien!
Não efectuar exercício físico eleva o risco em 16% enquanto mulheres com vidas activas que se exercitam apresentam uma redução de 10% no desenvolvimento da doença para doença metastática.
A obesidade, o síndroma metabólico e a resistência periférica à insulina estão associadas a um aumento no risco de desenvolver cancro da mama! Este risco chega a ser superior a 75% em alguns estudos!
O consumo do álcool está também relacionado com a maior incidência de cancro da mama sendo que mais de 7 “porções” por semana chegam a aumentar o risco em cerca de 50%.
Se pensássemos nisto tudo, talvez nenhuma de nós tivesse dúvidas de que efectuar a TCH com hormonas bioidenticas é prevenir doença, e dar mais qualidade de vida.
Ivone Mirpuri